"Conhecer para entender, acolher e incluir" é tema de palestra sobre autismo com profissionais da Apae de Três de Maio

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Evento reuniu profissionais da educação das escolas locais e contou com falas do médico neurologista Valdemar Borges Neto e da psicóloga Carina Mayer Mirowski

 

'Conhecer para entender, acolher e incluir' foi o tema de palestra sobre o Transtorno do Espectro Autista na última quinta-feira. Promovido pela Apae de Três de Maio, o encontro reuniu profissionais da educação das escolas públicas e particulares do município no auditório da Sicredi Noroeste RS/MG, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte.

Também participaram a equipe apaeana, a secretária municipal de Educação, Cultura e Esporte, Gelci Pieniz Assmann, e o vice-presidente da Apae e presidente da Associação de Pais e Familiares das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista, Marcelo da Silveira. 

A palestra iniciou com o médico neurologista Valdemar Borges Neto, que atua na Apae. Em sua explanação, ele apresentou os conceitos-chave para o entendimento do TEA, diagnóstico e necessidades de intervenção, além de um breve histórico sobre o autismo.

Conforme o profissional, são aspectos do TEA a tríade de comprometimento: comprometimento das interações sociais, na comunicação e nas habilidades imaginativas, e comportamentos restritivos e estereotipados. Ele acrescentou que existem níveis de graus de comprometimento, o que desenvolveu uma categorização.

Valdemar explicou sobre o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID), que são as diretrizes diagnósticas utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar estudos epidemiológicos e estabelecer o financiamento para a rede de saúde mental. O DSM está na quinta edição e o CID na 11ª edição.

“Dentro dos conceitos, o diagnóstico de autismo é uma categoria sindrômica, ou seja, é uma síndrome, com conjunto de sinais e sintomas que vêm juntos e se consegue distinguir, não considerando causa específica, com características funcionais prejudicadas em comum. Ele é um espectro porque existe uma gradação; há comprometimento crescente ou decrescente”, esclareceu.

A partir do DSM-5, o autismo é classificado como um dos Transtorno do Neurodesenvolvimento, caracterizado pelas dificuldades de comunicação e interação social e também os comportamentos restritos e repetitivos. “Os sinais de autismo podem incluir dificuldade de interagir brincar ou relacionar com outras crianças, movimentos repetitivos ou incomuns fora do contexto, atraso no desenvolvimento, dificuldade de aprendizagem, desenvolvimento de brincadeiras de maneira pouco usual e má consciência corporal espacial”, exemplificou.

O neurologista destacou que alunos com TEA podem ficar facilmente frustrados e ter comportamentos estranhos em sala de aula sem motivo aparente, ser sensíveis a luzes ou zumbidos, ter dificuldade para falar ou não falar nada, não demonstrar emoção e precisar de tempo extra para realizar tarefas em sala de aula e fazer testes longe de distrações.

“Acredita-se que o autismo seja estabelecido até, no máximo, três anos de idade. E são diversos os critérios a serem avaliados para se chegar ao diagnóstico. Por isso, diante de muitos fatores, é preciso de múltiplos profissionais pra saber o que está acontecendo. Ou seja, diagnosticar não pode ser algo impulsivo, de uma única avaliação. O ideal são múltiplas avaliações com múltiplos profissionais para a obtenção de um diagnóstico fidedigno.”

Ao concluir sua fala, Valdemar enfatizou que não é uma única informação que dá o diagnóstico de autismo. “É preciso avaliar detalhadamente. Se há suspeita e se são observados sinais persistentes, se avalia de forma multiprofissional, pois a complexidade de classificação leva a uma necessidade de avaliação mais detalhada, evitando conclusões precipitadas. O professor faz parte desta investigação, pois observa e pode descrever os sinais em sala de aula, e é com o auxílio deste detalhamento que se chega em um diagnóstico final.”

 

Níveis de suporte e ações para desenvolvimento

Na sequência, a psicóloga e mestre em Psicologia Carina Mayer Mirowski, que também atua na Apae de Três de Maio, afirmou que representa uma equipe, com experiências no atendimento de casos de TEA. “A partir de demandas, temos aqui um público direcionado a debater sobre o que podemos auxiliar neste momento em casos de alunos com autismo.”

Ela destacou os níveis de suporte do TEA. “São três níveis de suporte, conforme o DSM-5: Nível 1, Nível 2 e Nível 3. O Nível 1 exige apoio, o Nível 2 requer apoio substancial e o Nível 3 exige apoio muito substancial.”

Segundo Carina, frequentemente ouve algumas frases errôneas, baseadas no senso comum, como ‘a criança tem um pouco de autismo’, ‘o aluno tem metade de autismo’ e ‘o estudante é muito autista. “O correto é afirmar que o indivíduo tem autismo, pois quando o diagnóstico é fechado, contempla todos os critérios diagnósticos. O que ocorre é que o indivíduo pode apresentar nível de suporte menor ou maior.”

Ela salientou que todos os níveis de suporte têm os mesmos comprometimentos, contudo, em graus diferentes. Sobre o Nível de Suporte 1, ela explicou que o indivíduo apresenta déficit na comunicação social, dificuldade de iniciar interações sociais, interesse reduzido em interações sociais, dificuldade de formar frases completas, além de comportamento restritos e repetitivos e dificuldade de organização e planejamento.

“São déficits que autistas apresentam e que vão caminhar junto também na adolescência e na fase adulta deles. Mas, com as terapias e estímulos, é possível melhorar os sintomas no decorrer da vida.”

Carina também trouxe exemplos de ações e soluções para dificuldades enfrentadas pelos autistas em sala de aula, relatadas pelos pais. “Eles precisam de auxílio de pistas visuais e conversas para explicar: a criança entende, mas as vezes não responde. Rotina visual é um ótimo recurso para todas as crianças se organizarem, bem como comandos verbais objetivos e claros. Atividades coletivas de inclusão, contato com a família e tempo maior para a realização de atividades são ações fundamentais no processo.”

Ao finalizar, enfatizou que, devido a falas como ‘não parece autismo’ e ‘não tem cada de autismo’, muitos chegam para avaliação apenas na adolescência. “Assim, se perdeu o período de intervenção na infância, para que o indivíduo fosse estimulado antes e pudesse se desenvolver. Autismo não é só agressividade. O autismo de nível de suporte leve pode fazer isso, mas com menos intensidade; ele é o passivo, mas que tem dificuldade na realização das atividades e, por isso, precisa do auxílio e do entendimento do professor em sala de aula.”

A diretora pedagógica da Apae, Simone Rossi Tiecher, agradeceu a presença do público, bem como a disponibilidade dos palestrantes e a parceria com a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte.

 

 

Texto e fotos: Assessoria de Comunicação Apae Três de Maio

Jaqueline Peripolli / Jornalista MTE 16.999

 

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